Mitos da fotografia

Como em qualquer profissão, existem mitos, exageros e manias na fotografia. Selecionei os mais recorrentes. Veja:

Marca A é melhor que a marca B.

O fotógrafo geralmente é um sujeito apaixonável. Ele se apaixona por muitas coisas. Entre elas, o equipamento.

Para alguns é como um time do coração. Não basta gostar muito do seu, tem que combater os demais.

Mas, em termos de indústria a coisa não tem paixão. Todas as marcas visam lucro, é lógico. Dinheiro é o ar de uma empresa. É preciso ganhar dinheiro.

As marcas de equipamentos fotográficos são muito competitivas, lidam com um nível de tecnologia incrível e investem muito dinheiro em pesquisa e desenvolvimento.

É briga de gente muito grande. Como toda marca tenta atingir o maior número possível de usuários e para isso fragmenta sua linha de produtos em vários níveis, do mais simples e barato até o mais “top de linha” e caríssimo modelo.

Sendo assim, no caso específico da indústria de equipamentos fotográficos, podemos observar que todas as marcas relevantes no mercado possuem modelos muito simples (e alguns bem ruins) e outros muito completos e de altíssima qualidade.

Outro detalhe é que não existe nenhuma câmera fotográfica que seja adequada à todo e qualquer tipo de trabalho fotográfico. Simplesmente não existe “a melhor câmera do mundo”. Existem excelentes modelos para cada tipo de trabalho.

Além disso, várias marcas possuem participações acionárias de seus concorrentes, claro. Isso é comum em vários mercados.

A Sony por exemplo, além de acionista importante no capital de empresas concorrentes é fornecedora de itens importantes (como o sensor) de vários modelos de câmeras de outras marcas (como Canon e Nikon).

A Zeiss, por exemplo fornece uma grande linha de lentes para a Sony. Isso é bom pra eles, e bom pra nós.

Mais do que achar que existe uma câmera ou marca que seja “a melhor”, procure entender bem o seu equipamento e as demandas do seu nicho de marcado/trabalho para escolher a melhor ferramenta para o SEU trabalho.

Não se apaixone pela ferramenta, se apaixone pela atividade.

Tem muita gente prostituindo o mercado.

Não. O que há é gente que não tem noção que está pagando para trabalhar, ou tem noção perfeita do que está fazendo e possui uma estrutura de custos que permite prestar um serviço muito barato.

É possível prestar serviços muito baratos se sua estrutura foi planejada para isso. Não é possível sustentar um preço muito baixo (por muito tempo) se você tem uma estrutura alta.

Um fotógrafo que usa um equipamento muito simples, entrega fotos com mínimo tratamento de imagem e oferece um pacote pequeno de imagens, pode cobrar barato e ainda assim ter lucro.

Tudo vai depender do modelo de negócios que ele elaborou.

Mas a questão é: existe um modelo de negócios elaborado para isso? Ou ele não sabe o que está fazendo.

Se não souber exatamente o que está fazendo, o próprio dia-a-dia do trabalho acabará com ele.

Sendo assim, não se incomode com quem oferece serviços fotográficos a preços ridiculamente baixos. Antes, pergunte-se: esse cliente é o meu cliente? Pense nisso.

Antigamente as fotos eram mais realistas porque não havia Photoshop.

Bobagem. Não existe nada novo debaixo do sol. Quem já viu um laboratório fotográfico químico em atividade, sabe o quanto é possível tratar e/ou manipular uma fotografia.

A questão é que não existe fotografia da realidade! A fotografia é sempre uma interpretação da realidade. A realidade não é fotografável.

Sempre capturamos, na melhor das hipóteses, uma interpretação pessoal ou institucional da situação diante da câmera.

O momento, o enquadramento, o ponto de vista, as sequências, as ênfases, a seleção das imagens… distorcem a realidade na direção da interpretação do fotógrafo.

Além disso, saiba que montagens e manipulações muito críveis sempre existiram no mundo da fotografia, e bem antes do photoshop usar fraldas.

Quanto mais megapixels melhor.

Depende. Se você usa uma câmera com arquivos de 36Mpx ou 50Mpx para fotografar um casamento, vai precisar de um super computador para o tratamento das imagens.

Imagine chegar de um evento com 2000 a 5000 fotos deste tamanho!

Se você precisa fazer cortes drásticos em fotos, ou impressões de alta qualidade em tamanhos bem grandes, aí sim os arquivos grandes serão uma necessidade.

Mais uma vez é preciso entender as reais demandas do seu nicho fotográfico para escolher o equipamento mais adequado a ele.

As melhores fotos são feitas no final do ensaio.

Não, as melhores fotos são feitas quando há uma boa conexão entre o(s) cliente(s) e o fotógrafo. E isso é um assunto muito mais de relações humanas do que técnica fotográfica.

Lentes zoom são melhores que lentes fixas. Ou vice-versa.

Depende. Para eventos sociais? Eu creio que sim. Mas também é possível fotografar um casamento por exemplo com duas câmeras com lentes fixas (35mm e 85mm por exemplo).

As lentes zoom, são versáteis. As lentes fixas são dedicadas, especialistas, geralmente mais nítidas e frequentemente mais claras.

Na média, a qualidade de imagem entregue ao sensor por uma lente fixa é melhor. Mas existem lentes zoom de qualidade incrível e talvez a versatilidade seja mais importante que aquela incrível e quase imperceptível diferença de qualidade.

A necessidade da qualidade (especialmente nitidez) também varia muito de acordo com o fim que a foto terá. Se ela for impressa em uma capa de revista (A4, no máximo) pode não ser perceptível essa diferença.

Mas se ela for impressa em padrão Fine Art, para uma galeria ou exposição em tamanho médio ou grande, a história pode ser outra.

Além disso, pense em termos de investimento. O que é mais caro? Duas zooms (24-70 e 70-200) ou um conjunto de fixas para cobrir o mesmo leque de distâncias focais (24mm, 35mm, 50mm, 85mm, 105mm e 200mm).

Então leve em consideração: o tipo de trabalho, a demanda por qualidade e o investimento financeiro possível.

Quanto mais zoom melhor.

Para um investigador particular acho que sim. Para aquela foto paparazzi, provavelmente sim. Para fotografia de pássaros, sim. E, para ter qualidade aliada a muito zoom, vai precisar de muito dinheiro.

Lentes longas (acima de 200mm) geralmente tem uso específico e na maioria dos casos eventual. Considere alugar, quando precisar delas.

Mas se a sua área de atuação é jornalismo, esportes, natureza… prepare o bolso se quiser ter qualidade. Facilmente sua mochila custará mais que seu carro.

Zooms longas baratinhas, não tem qualidade. Isso é uma norma.

Preciso ter um Mac para edição de imagens.

Seria excelente, mas não precisa. Os computadores da Apple, especialmente a linha Mac Book Pro, são incríveis, estáveis, simples e muito duráveis. Mas é perfeitamente possível ter um computador “não-Apple” adequado e eficiente para edição e tratamento de imagens.

O problema maior que vejo é uma questão de organização e zelo. As pessoas, via de regra, usam o computador para tudo – fotografia, escritório, games… – e “poluem” sua ferramenta de trabalho com excesso de aplicativos instalados, ou mal-instalados, desinstalados, ou mal desinstalados, além de arquivos desorganizados por toda parte.

O ambiente digital é incrível para potencializar pessoas organizadas e bons hábitos digitais, mas também é um amplificador de todo tipo de desorganizações.

Também é comum o descuido com a segurança digital. Esses fatores roubam desempenho do seu equipamento.

Por isso, compre um computador de boa configuração, seja organizado e precavido contra problemas de segurança digital.

CHARBEL CHAVES
CHARBEL CHAVES

Fotógrafo e Professor de Fotografia desde 2010. Desenvolve trabalhos autorais, comerciais e educacionais simultaneamente. Autor do livro "Jornada: As histórias que as fotografias contam"

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